Carolina vai às escolas: produzindo currículo antirracista no interior da Bahia

Autores

DOI:

https://doi.org/10.20435/serieestudos.v29i65.1931

Palavras-chave:

epistemologias feministas negras, Carolina Maria de Jesus, currículo

Resumo

Este artigo objetiva apresentar uma análise de atividades produzidas por um grupo de pesquisa formado por professoras/es pesquisadoras/es, estudantes licenciados e bacharéis, em sua maioria mulheres negras imbuídas/os na des/re/construção dos currículos eurocentrados. Trata-se de ações construídas mediante teares de teorias e práticas curriculares insurgentes e decoloniais, irrigadas pelas epistemologias feministas negras. O campo empírico foi produzido por meio de rodas de conversa em escolas estaduais de ensino médio, situadas em três municípios baianos, que tiveram como disparador o Projeto Carolina Vai às Escolas. O Projeto visou a apresentar os dilemas da realidade brasileira perante duas obras de Carolina Maria de Jesus: Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada (2019) e Diário de Bitita (2014). As cartas produzidas pelas/pelos estudantes das turmas que tiveram envolvidas/os no projeto trazem a complexidades dos dilemas postos por Carolina, que, assim como a autora, têm suas vidas atravessadas pelo racismo, machismo e dificuldades financeiras. Com Carolina, elas/eles são afetados com a força vital que a movimentou em direção ao seu sonho de escrever, mensagem que reverberou nos estudantes a possibilidade de imaginar a melhoria das suas vidas por meio da educação.

Biografia do Autor

Cleber Lúcio Sousa Santos, Universidade do Estado da Bahia (UNEB), Salvador, Bahia, Brasil.

homem negro do Quilombo Urbano do Largo da Vitória, da cidade de Riacho de Santana, BA. Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Ensino, Linguagem e Sociedade da Universidade do Estado da Bahia (PPGELS-UNEB). Pós-Graduado Lato Sensu em Docência para Educação Profissional pelo Instituto Federal do Espírito Santo (IFES). Pós-Graduado em Docência Universitária pela Faculdade de Ciências, Tecnologia e Educação (FACITE). Bacharel em Administração pela Fundação Visconde de Cairu (FAVIC). Professor do Centro Territorial de Educação Profissional (CETEP) da Bacia do Rio Corrente. Participa do grupo de pesquisa Oju Obinrin Observatório de Mulheres Negras (UESB-CNPq).

Núbia Regina Moreira, Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), Vitória da Conquista. Bahia, Brasil.

Estágio Pós-Doutoral no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (ProPED-UERJ), como bolsista PNPD-CAPES. Doutorado em Sociologia pela Universidade de Brasília (UnB).  Mestrado em Sociologia pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Graduação em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Professora titular da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB). Professora permanente do Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGEd-UESB). Programa de Pós-Graduação em Relações-Étnicas e Contemporaneidade (PPGREC-UESB) e do Programa da Pós-Graduação em Ensino, Linguagem e Sociedade da Universidade do Estado da Bahia (PPGELS-UNEB). Líder do Grupo de Pesquisa Oju Obinrin Observatório de Mulheres Negras (UESB), pesquisadora do Grupo de Estudos e Pesquisa em Práticas Curriculares e Educativas (GEPPCE- UESB) e do Grupo Cultura, Memória e Desenvolvimento (CMD-UnB).

Talita Gomes, Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), Vitória da Conquista. Bahia, Brasil.

Mestra em Educação pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (PPGed-UESB), onde integra o Grupo de Pesquisa Oju Obinrin Observatório de Mulheres Negras. Graduada em Pedagogia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), atuou na área de Educação do Instituto Moreira Salles e na Rede Emancipa de Educação Popular. Trabalha com pesquisa em saúde, educação e juventudes pela Cooperação Social da Fiocruz (RJ) e é professora substituta de Educação Infantil no Colégio de Aplicação da UFRJ (CAp-UFRJ).

Referências

ALEXANDRE, Claudia Regina. Exu Feminino e o matriarcado nagô: indagações sobre o princípio feminino de Exu na tradição dos candomblés yoruba-nagô e a emancipação das “Exu de Saia”. 2021. Tese (Doutorado em Ciência da Religião) - Programa Ciência da Religião, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), São Paulo, 2021.

ALMEIDA, Mariléa de. Territórios dos afetos: O cuidado nas práticas femininas quilombolas contemporâneas do Rio de Janeiro. Revista Transversos, Maracanã, n. 8, p. 218-34, 2016.

BRASIL. Presidência da República. Lei n. 11.645, de 10 março de 2008. Altera a Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, modificada pela Lei no 10.639, de 9 de janeiro de 2003, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena”. Brasília, DF: Presidência da República, 2008. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/lei/l11645.htm. Acesso em: 15 jan. 2024.

BRASIL. Presidência da República. Lei n. 10.639, de 9 de janeiro de 2003. Altera a Lei 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira”, e dá outras providências. Brasília, DF: Presidência da República, 2003. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/L10.639.htm. Acesso em: 15/01/2024.

CARNEIRO, Aparecida Sueli. A construção do outro como não-ser como fundamento do ser. 2005. Tese (Doutorado em Educação) - Universidade de São Paulo (USP), São Paulo, 2005. Disponível em: https://repositorio.usp.br/item/001465832. Acesso em: 9 jan. 2024.

COLLINS, Patricia Hill. O que é um nome? Mulherismo, feminismo negro e além disso. Cadernos pagu, Campinas, n. 51, 2017.

OLIVEIRA, Fernanda; MEINERZ, Carla Beatriz. Raça e Gênero na Perspectiva dos Pensamentos de Mulheres Negras. Currículo Sem Fronteiras, [s.l.], v. 19, n. 2, p. 418-30, 2019.

EVARISTO, Conceição. A Escrevivência e seus subtextos. In: DUARTE, Constância Lima; NUNES, Isabella Rosado. Escrevivência: a escrita de nós. Reflexões sobre a obra de Conceição Evaristo. Ilustrações: Goya Lopes. Rio de Janeiro: Mina Comunicação e Arte, 2020.

EVARISTO, Conceição. A insubmissa voz de Conceição. [Entrevista cedida a] Taís Ilhéu. Le Monde Diplomatique Brasil, [s.l.], 2018. Disponível em: https://diplomatique.org.br/a-insubmissa-voz-de-conceicao/. Acesso em: 10 jan. 2023.

FELISBERTO, Fernanda. Carolina Maria de Jesus: #mulheresnegrasescritoras. In: SILVA, Joselina da (Org.). O pensamento de/por mulheres negras. Belo Horizonte: Nandyala, 2018.

GOMES, Nilma Lino. O movimento negro educador: saberes construídos nas lutas por emancipação. Petropolis: Editora Vozes Limitada, 2019.

GOMES, Nilma Lino. Indagações sobre currículo: diversidade e currículo. Brasília : Ministério da Educação; Secretaria de Educação Básica, 2007. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/Ensfund/indag4.pdf . Acesso em: 20 set. 2022.

GOMES, Nilma Lino. Cultura negra e educação. Revista Brasileira de Educação, Rio de Janeiro, v. 23, p. 75-85, 2003.

GOMES, Talita de Lima; MOREIRA, Núbia Regina. Currículo e feminismo negro: uma conversa inicial. In: REUNIÃO NACIONAL DA ANPED, 41., 2023, Manaus. Anais [...]. Manaus: ANPED, 2023. Disponível em: https://base.pro.br/sites/41anped/docs/13410-TEXTO_PROPOSTA_COMPLETO.pdf Acesso em: 10 jan. 2024.

GONZALEZ, Lélia. Por um feminismo afro-latino-americano. São Paulo: Editora Schwarcz-Companhia das Letras, 2020.

HOOKS, Bell. Olhares negros: raça e representação. São Paulo: Elefante Editora, 2019.

HOOKS, bell. Ensinando a transgredir: a educação como prática de liberdade. 2. ed. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2017.

INSTITUTO ODARA. Carta marcha das mulheres negras. Boletim Odara, Salvador, nov. 2015.

JESUS, Carolina de. Quarto de despejo: diário de uma favelada. 10 ed. São Paulo: Ática, 2014a.

JESUS, Carolina Maria de. Diário de Bitita. São Paulo: SESI-SP editora, 2014b.

MIRANDA, Claudia; MOREIRA, Núbia Regina. Apresentação: Dossiê Temático: saberes docentes de intelectuais negras: mediações outras frente ao ethos acadêmico. Revista Práxis Educacional, Vitória da Conquista, v. 15, n. 32, abr./jun. 2019.

MIRANDA, Fernanda. Silêncios prescritos: estudos de romances de autoras negras brasileiras (1859-2006). Rio de Janeiro: Malê, 2019.

MOREIRA, Núbia Regina; EVANGELISTA, Nadila Jardim; SANTOS, João Paulo Lopes dos. A experiência feminina negra e suas interrogações à política e prática curriculares. Práxis Educacional, Vitória da Conquista, v. 15, n. 32, p. 115-31, 2019.

PASSOS, Maria Clara Araújo dos; PINHEIRO, Bárbara Carine Soares. Do epistemicídio à insurgência: o currículo decolonial da Escola Afro-Brasileira Maria Felipa (2018- 2020). Cadernos de Gênero e Diversidade, Salvador, v. 7, n. 1, p. 118-35, 2021. Doi: https://doi.org/10.9771/cgd.v7i1.43442

RUFINO, Luiz. Pedagogia das encruzilhadas. Rio de Janeiro: Mórula editorial, 2019.

SANTANA, Bianca. Quando me descobri negra. São Paulo: Editora SESI-Serviço Social da Indústria, 2016.

SANTANA, Marise de. Relações Étnicas: desafios para o Ensino, Pesquisa e Extensão no Campo Interdisciplinar. ODEERE, Jequié, v. 4, n. 8, p. 35-49, 2019.

SANTOS, Cleber Lúcio Sousa; MOREIRA, Núbia Regina. E eu que nem era professor: narrativas de um bacharel docente. In: SEMINÁRIO CORPO, GÊNERO E SEXUALIDADE, 8.; SEMINÁRIO INTERNACIONAL CORPO, GÊNERO E SEXUALIDADE, 4.; LUSO-BRASILEIRO EDUCAÇÃO EM SEXUALIDADE, GÊNERO, SAÚDE E SUSTENTABILIDADE, 4., 2022, Campina Grande. Anais [...]. Campina Grande: Realize Editora, 2022. Disponível em: https://editorarealize.com.br/index.php/artigo/visualizar/87520. Acesso em: 3 dez. 2022.

SANTOS, Cleber Lúcio Sousa; SILVA, Poliana Reijane Souza; SORTE, Vandelúcia Ferreira da Silva Boa; CONCEIÇÃO, Silvano da. Memória (s), identidade (s) e currículo: concepções para o não ser, de sujeitos/as que são. In: SEMANA DE EDUCAÇÃO DA PERTENÇA AFRO-BRASILEIRA, 17., 2022, Vitória da Conquista. Anais [...]. Vitória da Comquista: UESB, 2022. p. 147-55. Disponível em: http://anais.uesb.br/index.php/sepab/article/viewFile/10259/10079. Acesso em 30 nov. 2022.

SILVA, Joselina da (Org.). O pensamento de/por mulheres negras. Belo Horizonte: Nandyala, 2018.

TRINDADE, Azoilda. O racismo no cotidiano escolar. 1994. 249f. Dissertação (Mestrado em Educação) - Fundação Getúlio Vargas (FGV), Rio de Janeiro, 1994. Disponível em: https://bibliotecadigital.fgv.br/dspace/bitstream/handle/10438/8948/000304120.pdf . Acesso em: 11 jan. 2024.

Downloads

Publicado

2024-05-15

Como Citar

Santos, C. L. S., Moreira, N. R. ., & Gomes, T. . (2024). Carolina vai às escolas: produzindo currículo antirracista no interior da Bahia. Série-Estudos - Periódico Do Programa De Pós-Graduação Em Educação Da UCDB, 29(65), 27–48. https://doi.org/10.20435/serieestudos.v29i65.1931