Currículo-slasher e dispositivo da catastrofização: nas entranhas de uma subjetividade zumbi
DOI:
https://doi.org/10.20435/serieestudos.v27i61.1698Palavras-chave:
currículo, subjetividade, dispositivoResumo
O artigo, filiado ao campo das pesquisas pós-críticas em Educação e inspirado em obras do horror gore e slasher, objetiva utilizar a imagem do zumbi para significá-lo como um modo de subjetivação em marcha. O argumento é o de que a subjetividade zumbi é um composto de posições de sujeito que carrega traços de um planeta em colapso e que urde um caráter de modelização e serialização dos sujeitos. Embora essa subjetividade possa ser demandada em diferentes instâncias e espaços, operamos com o currículo das narrativas midiáticas seriadas como um dos principais articuladores que atualizam as linhas de um “dispositivo da catastrofização”. Tal dispositivo tem servido para responder à necessidade de se definir o que conta, em um mundo em ruínas, como vivível ou matável. Concluímos o artigo afirmando que embora o currículo das narrativas seriadas acione uma necropolítica que objetive eliminar o que desordena as normas, ele terá de enfrentar uma resistência tão inventiva, astuciosa e agitadora quanto o poder que exerce.
Referências
AGAMBEN, Giorgio. Homo sacer: o poder soberano e a vida nua. Belo Horizonte: Editora da UFMG, 2004.
BUTLER, Judith. Discurso de ódio: uma política do performativo. São Paulo: UNESP, 2021.
BUTLER, Judith. Vidas precárias: os poderes do luto e da violência. São Paulo: Editora Autêntica, 2019.
BUTLER, Judith. Quadros de guerra: quando a vida é passível de luto? Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2017
BOM-TEMPO, Juliana Soares. O que podem os corpos quando não há amanhã? In: MONTEIRO, Alexandrina; VICENTIN, Marcelo; CORRÊA, Mirele; GALLO, Sílvio (Org.). Conexões: Deleuze e Corpo e Cena e Máquina e... São Carlos: Pedro & João Editores, 2021. p. 61-86.
CAMUS, Albert. A peste. Rio de Janeiro: Record, 2017.
CARVALHO, Alexandre Filordi de. Maquinejos na mecanosfera: escarros, escárnios e escândalos como cena dos corpos. In: MONTEIRO, Alexandrina; VICENTIN, Marcelo; CORRÊA, Mirele; GALLO, Sílvio (Org.). Conexões: Deleuze e Corpo e Cena e Máquina e... São Carlos: Pedro & João Editores, 2021. p. 179-96.
CARVALHO, Alexandre Filordi de. A figura genealógica do monstruoso: corpos deformados, desmedidos e repugnantes. Caderno de Estudos do Discurso e do Corpo, Vitória da Conquista, v. 2, n. 1, p. 8-16, jan./jul. 2013a.
CARVALHO, Alexandre Filordi de. A escola: uma maquinaria biopolítica de rostidade? Revista Sul-Americana de Filosofia e Educação, Brasília, n. 20, p. 4-29, maio/out. 2013b.
CARVALHO FILHO, Evanilson Gurgel; MAKNAMARA, Marlécio; CHAVES, Silvia Nogueira. Maquinações generificadas no currículo das narrativas seriadas. Revista Estudos Feministas, n. 30, v. 3, p. 1-19, set./dez. 2022.
DELEUZE, Gilles. Michel Foucault: as formações históricas. São Paulo: N-1 edições; editora filosófica politeia, 2019.
DELEUZE, Gilles. Diferença e repetição. Rio de Janeiro: Editora Paz & Terra, 2018.
DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. Mil platôs: capitalismo e esquizofrenia. [volume 2]. São Paulo: Editora 34, 2012.
DELEUZE, Gilles. Crítica e clínica. São Paulo: Editora 34, 2011.
DELEUZE, Gilles. Foucault. São Paulo: Brasiliense, 2005.
DELEUZE, Gilles; PARNET, Claire. Diálogos. São Paulo: Editora Escuta, 1998.
DELEUZE, Gilles. ¿Que és un dispositivo? In: BALIBAR, Etinenne et al. Michel Foucault, filósofo. Barcelona: Gedisa, 1990. p. 155-61.
DREYFUS, Hubert; RABINOW, Paul. Michel Foucault: uma trajetória filosófica – para além do estruturalismo e da hermenêutica. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1995.
EVARISTO, Conceição. Olhos d’água. Rio de Janeiro: Pallas, 2015.
FOUCAULT, Michel. História da sexualidade I: a vontade de saber. Rio de Janeiro: Paz & Terra, 2017.
FOUCAULT, Michel. A arqueologia do saber. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2005.
FOUCAULT, Michel. Foucault. In: MOTTA, Manoel Barros da (Org.). Ética, sexualidade, política. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2004. p. 234-39.
GUATTARI, Félix. Psicanálise e transversalidade. Aparecida: Ideias e Letras, 2004.
GUATTARI, Félix; ROLNIK, Suely. Micropolítica: cartografias do desejo. Petrópolis: Vozes, 1996.
GURGEL, Evanilson; MAKNAMARA, Marlécio. Antologia de um currículo: notas esquizoanalíticas para cartografar narrativas seriadas. Educação e Pesquisa, v. 48, e. 242902, p. 1-19, 2022.
GURGEL, Evanilson; MAKNAMARA, Marlécio; CHAVES, Silvia. Entre um “currículo-obsceno” e um “currículo-louco”: composições de um “currículo-menor”. Revista Educação em Questão, v. 59, n. 62, p. 1-22, out./dez. 2021.
HARAWAY, Donna. Antropoceno, capitaloceno, plantationoceno, chthuluceno: fazendo parentes. ClimaCom, Campinas, v. 3, n. 5, p. 139-48, 2016.
HARDT, Michael. A resistência antecipa o poder. Revista Eco-Pós, Rio de Janeiro, v. 17, n. 1, p. 1-12, jan./jun. 2014.
HARDT, Michael; NEGRI, Antonio. Império. Rio de Janeiro: Record, 2001.
KRENAK, Ailton. Ideias para adiar o fim do mundo. São Paulo: Companhia das Letras, 2019.
LAZZARATO, Maurizio. Signos, máquinas, subjetividades. São Paulo: N-1 edições, 2014.
MARCELLO, Fabiana de Amorim. O conceito de dispositivo em Foucault: mídia e produção agonística de sujeitos maternos. Educação & Realidade, Porto Alegre, v. 29, n. 1, p. 199- 213, jan./jun. 2004.
MAKNAMARA, Marlécio. Currículo, música e gênero: o que ensina o forró eletrônico?. 2011. 151f. Tese (Doutorado em Educação) – Faculdade de Educação, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2011.
MAKNAMARA, Marlécio. Quando artefatos culturais fazem-se currículo e produzem sujeitos. Reflexão e Ação, v. 27, n. 1, p. 58-73, mai./ago. 2020.
MAKNAMARA, Marlécio. Encontros entre pesquisas (auto)biográficas e necessidades de formação docente em Ciências. Revista Insignare Scientia – RIS, v. 3, n. 2, p. 135-155, mai./ago. 2020a.MBEMBE, Achille. Necropolítica: biopoder, soberania, estado de exceção, política da morte. São Paulo: N-1 edições, 2018.
MBEMBE, Achille. Políticas da Inimizade. Lisboa: Antígona, 2017.
NEGRI, Antonio. Exílio: seguido de valor e afeto. São Paulo: Editora Iluminuras, 2001.
PARAÍSO, Marlucy Alves. A ciranda do currículo como gênero, poder e resistência. Currículo sem Fronteiras, [s.l.], v. 16, n. 3, p. 388-415, set./ dez. 2016.
PARAÍSO, Marlucy. Encontros com novas subjetividades nas experimentações curriculares. In: ENCONTRO NACIONAL DE DIDÁTICA E PRÁTICA DE ENSINO, 13., 2006, Recife. Anais [...]. Recife: UFPE, 2006. p. 1-12.
PARAÍSO, Marlucy. Currículo e mídia educativa brasileira: poder, saber e subjetivação. Chapecó: Argos, 2007.
PELBART, Peter Pál. Tempos de Deleuze. Revista Limiar, São Paulo, v. 8, n. 15, p. 107-23, jan./jun. 2021.
PELBART, Peter Pál. Vida capital: ensaios de biopolítica. São Paulo: Editora Iluminuras, 2016.
ROLNIK, Suely. Esferas da insurreição: notas para uma vida não cafetinada. São Paulo: N-1
edições, 2019.
ROSE, Nikolas. Como se deve fazer a história do eu? Educação & Realidade, Porto Alegre, v. 26, n. 1, p. 33-57, jan./jun. 2001a.
ROSE, Nikolas. Inventando nossos eus. In: SILVA, Tomaz Tadeu da (Org.). Nunca fomos humanos: nos rastros do sujeito. Belo Horizonte: Autêntica, 2001b. p. 137- 204
SONTAG, Susan. Diante da dor dos outros. São Paulo: Companhia das Letras, 2003.
VALENCIA, Sayak. Capitalismo gore. Espanha: Melusina, 2010.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2022 Evanilson Gurgel, Marlécio Maknamara
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
A revista Série-Estudos permite a reprodução total em outro órgão de publicação mediante a autorização por escrito do editor, desde que seja feita citação da fonte (Série-Estudos) e remetido um exemplar da reprodução. A reprodução parcial, superior a 500 palavras, tabelas e figuras deverá ter permissão formal de seus autores.
Direitos Autorais para artigos publicados nesta revista são do autor, com direitos de primeira publicação para a revista. Em virtude de aparecerem nesta revista de acesso público, os artigos são de uso gratuito, com atribuições próprias, em aplicações educacionais e não-comerciais.