Educação, identidade e infância negra
Resumo
Este trabalho analisa as percepções e vivências de crianças negras em relação ao preconceito étnico-racial nas relações familiares, sociais, e, em especial no meio escolar. Os dados qualitativos foram obtidos por meio da observação participante, entrevista semi-estruturada e registros etnográficos. Os resultados sinalizaram que a identidade não pode ser considerada como um ato individual e sim construída nas relações com o outro, ou seja, nas socializações. Portanto, quando se aborda as socializações pensa-se em um intercâmbio entre as pessoas, e refletir sobre essa dialética entre as crianças negras e as de outras etnias é analisar os confrontos identitários que são estabelecidos dentro da sociedade. Nesse sentido, buscou-se a compreensão dessas relações na tentativa de identificar a importância delas na construção da identidade étnica. Analisou-se também como as crianças negras são apresentadas pela mídia, onde elas não conseguem ver-se, pois quando aparecem são em papéis secundários, muitas vezes como serviçais. Nos desenhos infantis, as crianças negras não se sentem representadas, pois raramente aparecem crianças como elas. Além disso, constatou-se que as relações vivenciadas pelas crianças negras com as de outros grupos étnicos são marcadas em sua maioria por situações de discriminação e preconceito, facultando sentimentos e dificuldades para assumirem a etnicidade e a auto-estima, que se sabe constituem fatores importantes para proporcionar a segurança necessária visando à inserção na sociedade.
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